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  • Foto do escritorGeiza Reis

Histórias de uma professora:


O aluno que odiava Artes.




Mais um ano se iniciava na escola. Mais um ciclo que deveria ser percorrido. Ano novo, novas turmas, novos alunos, novas expectativas.

Ao adentrar o 3º ano do fundamental, iniciei com um animado 'bom dia' e falei que apresentaria a disciplina de Artes, bem como resumiria nosso trabalho e aprendizado do decorrer do ano.

Dentre os olhares e expressões de empolgação, um aluno levantou a mão e pediu para falar...

"Professora, só quero dizer que ODEIO artes! Não vejo utilidade dela na minha vida e acho uma completa perda de tempo!"

Claro que fiquei surpresa... um aluno tão novo e tão sério... Não demonstrava comportamentos típicos de uma criança! Trazia expressões que mais pareciam reproduções de algum adulto!

Se passaram mil coisas em minha mente, mas precisava agir rápido e tentar fazer com que ele refletisse sobre suas palavras!

Então disse a ele que ódio era uma palavra muito forte... Que com certeza ele não odiava a arte e eu iria mostrar isso a ele!

Continuei:

Bom, vou fazer algumas perguntas a vocês (para a sala no geral) e vocês levantam a mão, beleza?

Após concordarem, comecei:

Quem aqui gosta de ouvir música?

Quem aqui gosta de desenhar/ pintar?

Quem aqui gosta de ver desenhos, seja na televisão ou no cinema?

Quem gosta de jogar vídeo-game?

E de dançar, quem gosta?

Alguém aqui gosta de cantar?

Pois então, se vocês levantaram a mão para qualquer um dos itens que eu falei, então é sinal de que gostam de Arte! E olha que eu nem falei tudo... a Arte está em quase tudo que nos cerca!

Ainda irredutível, o menino permaneceu dizendo que não gostava de Arte, que eu não havia convencido ele!

Então respirei, sorri para ele e disse: não tem problema... O meu papel é mostrar a você a importância dela e o quanto você pode ser feliz se deixar que ela faça parte da tua vida! Pode ficar tranquilo, temos um longo caminho pela frente, você ainda vai aprender muita coisa legal! ;)

Dia após dia, semana após semana, fui buscando fazer o meu trabalho da melhor maneira possível, mas sem me preocupar muito se estava ou não agradando esse aluno!

Haviam dias em que ele se recusava a participar das aulas, haviam outros em que ele esquecia sua fúria e participava!

Busquei não demonstrar que estava o observando, apenas mantinha claro (tanto para ele quanto para a turma) que eu estava lá para sanar as dúvidas e ensinar!

Dia após dia, fui percebendo mudanças nesse aluno. Já não ficava sentado em um canto, emburrado. Já não se isolava mais. Fazia as atividades sorrindo e com entusiasmo. Finalmente estava se enturmando e socializando com os demais alunos.

Após aproximadamente quatro meses de trabalho, esse aluno me recebeu na porta da sala com um abraço!

Procurei agir com naturalidade, mas obviamente estranhei...rs

Me perguntou qual o número que eu usava de anel (novamente uma ação estranha vinda dele rs), então o respondi e dei continuidade na aula!

Ele, sem protestar, fez a aula normalmente!

No dia seguinte, veio ao meu encontro e me entregou uma sacolinha de papel... Me deu um abraço e disse: obrigado, professora!

Meio sem entender, agradeci e abri a sacolinha... Era um lindo anel e uma correntinha (adereços que uso com muito frequência).

Nem preciso dizer o quanto fiquei emocionada, né?

Não pelo presente em si, mas pela constatação do quanto ele havia mudado! A forma como passou a enxergar a matéria de artes e até mesmo sua própria vida!

Bom, como podem ver, muitas vezes não é necessário discutir incansavelmente com as pessoas para provar a elas que estão equivocadas, muito menos empurrar goela abaixo o que você acredita ser o certo, basta mostrar através de ações!

Para quem é professor, tenha a certeza de que teus alunos te observam constantemente! Eles sentem se você gosta ou não do teu trabalho! E sim, tudo os influencia!

Não basta dizer que tua matéria é importante, teu aluno precisa sentir isso, aula após aula. Ele precisa entender a real utilidade, ele precisa compreender o real sentido! Não basta dizer "estude e pronto! Você é obrigado, então não questione!", isso não só gera revolta, como também gera desinteresse e apatia pela matéria.

Não estou dizendo que é fácil, não estou dizendo que não haverão dias ruins, dias extremamente cansativos... Mas, nós professores, precisamos sempre nos lembrar do motivo pelo qual escolhemos essa profissão!

Para mim não é só uma profissão, mas uma vocação!

Mas esse já é um assunto para outro texto! ;)

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